ATELIÊ BIOGRÁFICO DE PROJETO: ESPAÇO-TEMPO PARA A CONSTRUÇÃO DAS BIOGRAFIAS EDUCATIVAS EM EDUCAÇÃO FÍSICA
- Elisandro Schultz Wittizorecki (Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS - Brasil)
- Ândrea Tragino Plotegher (Universidade Federal do Rio Grande do Sul/UFRGS - Brasil)
O texto tem como objetivo discutir a apropriação do Ateliê Biográfico de Projeto (ABP) como um dispositivo de formação-investigação no campo da formação de professores em Educação Física. O ABP se apresenta como uma proposta que articula biografia e educação, baseado no conceito de Delory-Momberger, por apresentar potencialidades que considera o sujeito protagonista do seu processo de formação, de conhecimento e aprendizagem, a partir da biografização, ou seja, a capacidade de fazer a narração da sua própria biografia educativa. A metodologia apoia-se em uma abordagem qualitativa e adota como princípios teóricos-metodológicos os fundamentos da pesquisa biográfica e o movimento das histórias de vida. Configuraram-se colaboradores da pesquisa, professores(as) pesquisadores(as) vinculados ao Grupo de Estudos e Pesquisas Formação de Professores e Prática Pedagógica em Educação Física e Ciências do Esporte (F3P-EFICE) da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Sendo assim, o ABP se desenvolveu, tendo em vista compreender, por meio das narrativas (auto)biográficas, como os professores(as) em processo de formação continuada tem articulado a docência e a pesquisa na constituição do ser e estar docente. Delory-Momberger justifica e propõe o ABP como um espaço-tempo potencializador de reflexões, à medida que inscreve a história de vida em uma dinâmica prospectiva que articula as três dimensões da temporalidade: (i) passado (pela rememoração das experiências vivenciadas); (ii) presente (condição no qual se encontra atualmente) e, (iii) futuro (elaboração do projeto pessoal). O ABP adota duas práticas que são complementares no seu percurso, são elas: a autobiografia e a heterobiografia. A autobiografia está relacionada ao trabalho que será realizado por si mesmo no ato de narrar, ou seja, uma escrita de si, que pode ser falado ou escrito, e a heterobiografia, que corresponde ao trabalho de escuta/leitura e compreensão da narrativa realizado pelo outro. Para a realização do ABP, foi planejado seis momentos específicos. O primeiro momento foi a exposição das informações sobre os procedimentos, objetivos do ateliê e os dispositivos que seriam utilizados; o segundo momento consistiu na elaboração, negociação e ratificação coletiva do contrato biográfico; o terceiro e quarto momentos, se desenvolveram em duas jornadas, com a produção da primeira narrativa (auto)biográfica seguido da sua socialização; quinto momento foi a construção das cartas (escrita sobre a narrativa do outro) e o sexto momento foi a leitura e socialização da segunda narrativa (auto)biográfica, como também um tempo de síntese final. A implicação da escuta/leitura da narrativa do outro e o reconhecimento de si nessas narrativas nos remete a entender a relevância das interações entre os participantes ao longo do percurso do ABP, acerca da (re) construção da identidade e da aprendizagem biográfica. Por fim, a ideia central do ateliê biográfico de projeto foi proporcionar o processo de biografização de si, de modo a ser um caminho para a integralização dos saberes e conhecimentos disponibilizados no percurso da docência e da pesquisa, tendo como base as experiências de vida e formação vivenciadas dentro e fora da universidade, bem como permitir processos reflexivos das práticas pedagógicas vividas ao longo da carreira docente.