Educación Física, Políticas Feministas, Géneros y Sexualidades

TODOS ERRAM, MAS A GENTE TEM QUE ERRAR MUITO MENOS: NARRATIVA AUTOBIOGRÁFICA DE UMA ÁRBITRA CENTRAL DE FUTEBOL PROFISSIONAL MASCULINO

  • Andressa Hartmann (Confederação Brasileira de Futebol, Brasil)
  • Karoline Hachler Ricardo (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
  • Janaína Fontes de Oliveira (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
  • Marzo Vargas dos Santos (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
  • Elisandro Schultz Wittizorecki (Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Brasil)
Resumen

Apitar partidas de futebol profissionais masculinos como árbitra central da Federação Gaúcha de Futebol e da Confederação Brasileira de Futebol, tem me instigado a refletir sobre as minhas próprias distinções perceptivas que se (re)atualizam, onde o inesperado faz parte e a (re)leitura é permitida, com relação a: “sabemos que homens e mulheres erram, mas a gente (mulheres) tem que errar muito menos?”. Considerando os deslocamentos sociais e emocionais que estão em constantes (re)negociações de significados, inclusive dos meus próprios entendimentos e posicionamentos, e colocando em questão a produção das minhas ações na arbitragem em partidas de futebol profissionais masculinos, me questiono: “o que e/ou com quem me relaciono e se relaciona comigo e o que me mobiliza (faz-fazer) em campo e/ou não como árbitra central no futebol profissional masculino?”. Suleada pela Teoria Ator-Rede (ATR) de Bruno Latour, o objetivo desta narrativa autobiográfica é o de analisar e compreender as associações de interesses que faço como atora-rede nesta relação, produzidas nas e pelas controvérsias, que me fazem estar mais próxima ou mais afastada de um ou outro arranjo (‘homens e mulheres erram’ e ‘mulheres têm que errar muito menos’). Para as reflexões e análises não parto do pressuposto de que erros/incertezas de lances de mulheres árbitras centrais contam/pesam mais (ou menos) do que erros/incertezas de lances de homens árbitros centrais em uma partida de futebol profissional masculino. Diferente disso, a intenção é a de mapear as fontes das incertezas, pois neste estudo considero que o importante não é afirmar quem atua sobre mim (árbitra central), mas passar de uma certeza – “a gente (mulheres) tem que errar muito menos” –, para uma incerteza sobre essa afirmação; dizendo, para tanto, que existem agências capazes de me fazer questionar/colocar à prova: “será que sempre as mulheres, e no caso deste estudo, árbitras centrais de futebol profissional masculino, recebem tratamento diferente em razão do gênero?”, abrindo a caixa preta, que aqui compreendo como sendo “relações de gênero e poder”. Para tanto, parto de uma simetria entre árbitros e árbitras centrais, movimento indispensável para a compreensão de que a arbitragem de mulheres envolve o deslocar-se entre essas direções que implicam diferentes redes, trabalhando com elas como componentes que me possibilitam ver, interpretar e agir no comando de uma partida de futebol, sobretudo nos jogos profissionais masculinos, sem ter que polarizar essas posições. Nesses deslocamentos, percebi que ‘comandar uma partida de futebol’, atua, nesse caso, como um tipo de agregação momentânea, uma conexão de elementos heterogêneos (humanos e não-humanos) que me fazem agir/fazer como árbitra central; possibilitando a compreensão de que não apito sozinha em campo: essa é uma ação que não pertence somente a mim (árbitra central), pois as capacidades necessárias para tal estão distribuídas numa série de agências com as quais conecto e trabalho.