O presente estudo, caracterizado como um ensaio teórico objetiva destacar o desenvolvimento de valores para a formação humana através do esporte. Recentemente, Ciampolini (2020) e Gould e Carson (2008) têm utilizado o conceito de habilidades para a vida (HV) para investigar os valores, comportamentos e atitudes aprendidos no esporte e transferidos para outros contextos, como respeitar as pessoas, ser disciplinado, trabalhar bem em equipe, entre outras condutas. De acordo com Magnane (1964), o esporte pode ser entendido como uma atividade de lazer, cuja predominância é o esforço físico, praticado competitivamente e comportando regulamentos. Esses regulamentos referidos pelo autor são as regras que conduzem a boa prática esportiva, que exigem uma série de valores individuais que devem ser respeitados, para que o esporte propicie vivências saudáveis, desenvolva o caráter do indivíduo e possibilite uma evolução do praticante como cidadão. Entretanto, mesmo que as regras delimitem certos comportamentos, cada praticante possui a autonomia para exercer a técnica de qualquer modalidade da sua maneira, com base nas experiências de vida que o indivíduo tem consigo, desde que não invada os direitos do oponente. Campolini, Nascimento e Milistetd (2022) mencionam em sua pesquisa a World Rugby - entidade máxima desse esporte - que oficializou cinco valores que simbolizam os princípios da modalidade, que por mais violenta que seja, colaboram no desenvolvimento do indivíduo, sendo eles: respeito, disciplina, solidariedade, integridade e paixão. Tais princípios, contudo, não se limitam apenas a esse esporte, adequando-se a outros esportes e transferindo-se a vida dos praticantes. Entretanto, ainda que exista competitividade e disputa nos esportes, é de suma importância evidenciar o poder do esporte como pacificador da sociedade, destacando as Copas do Mundo como exemplos pertinentes desse potencial. Nessa perspectiva, os mega eventos reforçam valores de interação e sociabilidade, em que temos de respeitar as diferenças entre os povos e olharmos o outro não como adversários, mas como parte integrante para enriquecer nossas experiências e formação humana. Além disso, Vago (1996) afirma que o esporte não é um espaço de reprodução e repetição do trabalho, mas sim uma área de realização do mesmo, isto é, o esporte admite a autonomia do praticante em seus movimentos para exercer a técnica esportiva, valorizando a parte criativa, favorecendo a maior liberdade de movimentos, desenvolvendo o senso crítico, a integração, a socialização e colaborando no desenvolvimento da formação humana. Assim, fica nítido que há uma via de mão dupla entre os esportes e os valores, de modo que o esporte exige a aplicação de certos comportamentos para sua prática, ao mesmo tempo que nos ensina valores que são transmitidos para a vida, colaborando no desenvolvimento da formação humana.